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Mensagens interceptadas pela Polícia Federal mostram que o escândalo do mensalão não serviu de lição para o ex-deputado Roberto Jefferson 63s61

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h58 - Publicado em 8 jun 2018, 06h00

Em fevereiro de 2017, o secretário-geral do PTB, Norberto Paulo de Oliveira Martins, escreveu uma mensagem para o servidor de carreira do Ministério do Trabalho Renato Araújo Júnior: “Irmão, você está adotado. Você tem dois padrinhos”. Empolgado, Renato respondeu prontamente: “Vocês não vão se arrepender. Sou especialista em registro sindical (…) Marca para eu tirar uma foto com Roberto. Minha mãe é fã dele”. Em março, o servidor conseguiu o primeiro de seus objetivos: ter uma imagem de recordação ao lado de Roberto Jefferson, clicada durante um almoço em Brasília. “Obrigado pela confiança e por ter me levado ao chefe”, escreveu Renato para Norberto. Depois disso, os três aram a agir em parceria — e os três também tiveram a prisão solicitada pela Polícia Federal, acusados de fraudes no Ministério do Trabalho.

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Logo depois do primeiro encontro com o “chefe”, Renato ingressou no PTB, tirou uma segunda foto ao lado de Roberto Jefferson para registrar a filiação e assumiu de vez o papel de apadrinhado político — um tipo comum no serviço público que faz tudo, menos servir ao público. Como de costume, à medida que atendia às demandas do “chefe”, Renato se fortalecia. Um mês depois de virar petebista, o servidor foi promovido a chefe de gabinete da Secretaria de Relações do Trabalho — o terceiro posto mais importante na hierarquia do órgão. Roberto Jefferson, o “chefe”, dava uma mão a sindicatos interessados em obter registro no Ministério do Trabalho. Em troca, os beneficiados garantiam apoio político e econômico ao PTB e a seus dirigentes — esquema similar na forma, no conteúdo e nos resultados ao que Jefferson e Maurício Marinho, um funcionário de segundo escalão dos Correios, protagonizaram no mensalão, há treze anos. Os dois acabaram presos. Marinho, flagrado recebendo propina em nome de Jefferson e do PTB, na época foi chamado de “petequeiro” pelo ex-deputado.

No Ministério do Trabalho, o roteiro foi parecido. Em maio do ano ado, surgiram os primeiros rumores de irregularidades na pasta. O Ministério Público intimou um grupo de servidores a prestar esclarecimentos sobre fraudes em documentos sindicais. A tropa petebista entrou em ação. Norberto Paulo deu uma ordem a Renato: “Vê se você acha o depoimento dos funcionários (…) Olho vivo”. O servidor respondeu ao então braço-direito de Roberto Jefferson: “É fundamental que você saiba do teor (…) Assim nem você nem o presidente são pegos de surpresa”. Em julho, Renato mandou um áudio pelo WhatsApp a Roberto Jefferson. Recebeu a seguinte resposta do presidente do PTB: “Eu estou acompanhando, meu irmão. Eu sei que tá grave a situação aí. Tô acompanhando. Tu tem nossa solidariedade e segura firme. Porque vai chegar o teu momento”.

Petequeiros ao trabalho
Apadrinhado - Marinho: pivô do escândalo do mensalão, há treze anos (//Reprodução)
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O momento chegou. A fraude emergiu em março deste ano, quando VEJA revelou a existência de um esquema de arrecadação de propina envolvendo integrantes do PTB, em parceria com o Solidariedade, lobistas e servidores públicos. Na época, questionado sobre o caso, Roberto Jefferson se limitou a dizer que o Ministério do Trabalho era um “vespeiro”. Dois meses depois dessa declaração, a Polícia Federal deflagrou a Operação Registro Espúrio para desmantelar uma rede de corrupção instalada na pasta — que cobrava até 4 milhões de reais para autorizar um registro de sindicato.

Além de Jefferson, o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes, e o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, são alvo da investigação. Renato Araújo, o apadrinhado, teve a prisão decretada. Para os investigadores, há indícios de que o presidente do PTB “tem poderosa atuação no âmbito do Ministério do Trabalho, dando respaldo à indicação e à manutenção de indivíduos em postos-chave na estrutura do órgão e cobrando desses últimos uma atuação de modo a atender a seus interesses privados”. O poder, aliás, é tão grande que, em janeiro, o presidente Temer nomeou Cristiane Brasil, a filha do ex-deputado, para o cargo de ministra do Trabalho. A Justiça suspendeu a posse. Responsável pelo inquérito no Supremo Tribunal Federal, o ministro Edson Fachin não autorizou a prisão de Roberto Jefferson nem a de Norberto, os dois padrinhos.

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Publicado em VEJA de 13 de junho de 2018, edição nº 2586

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