Relâmpago: Revista em Casa por R$ 9,90
Imagem Blog

Em Cartaz 2b122x

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Do cinema ao streaming, um blog com estreias, notícias e dicas de filmes que valem o ingresso – e alertas sobre os que não valem nem uma pipoca

A Diplomata e mais: as séries que expõem as agruras das mulheres no poder 6p2s41

Na atração da Netflix, uma embaixadora americana deve lidar com tensões geopolíticas — enquanto tenta controlar um marido que mete os pés pelas mãos w614a

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 out 2024, 10h48 - Publicado em 26 out 2024, 08h00

Na hierarquia do mundo diplomático, o embaixador conta com respaldo de um vice, o qual é chamado de número 2. A nomenclatura ganhou significado extra na série A Diplomata, que lança sua segunda temporada na quinta-feira 31, na Netflix: Kate (Keri Russell) foi por muitos anos número 2 de Hal (Rufus Sewell), relação profissional que virou casamento — fazendo com que ela se tornasse coadjuvante dele também na vida pessoal. A dinâmica muda drasticamente quando Kate é promovida pela Casa Branca e enviada a Londres como embaixadora americana na Inglaterra. Ela vira número 1 e seu marido, sem função oficial, se resigna ao papel de cônjuge — ou de “esposa”, como ele diz vez e outra, reproduzindo o vocabulário machista desse universo. Às esposas, ou melhor, aos cônjuges, destinam-se tarefas como a decoração da casa e a organização de eventos. Hal se esforça para apoiar Kate, mas ele não foi talhado para o segundo plano — e ela, por sua vez, tem pouco gosto pelos holofotes. “Trocar o alfa e o beta de lugar pode causar desconforto a ambos”, disse Keri Russell em entrevista a VEJA.

NOVA TEMPORADA - Casal da série em cena: entre tapas, intrigas e beijos
NOVA TEMPORADA - Casal da série em cena: entre tapas, intrigas e beijos (./Netflix)

Na trama, o casamento conturbado anda em paralelo com tensões geopolíticas — tema que conecta um casal entusiasta da força da diplomacia. “É comum se apaixonar por alguém do trabalho que tem os mesmos interesses que você”, diz a criadora da série, Deborah Cahn. “Mas existe o perigo de que, um dia, essas pessoas discordem, se tornem rivais e até compitam pelo mesmo cargo.” Enredar nessa dinâmica o ego ferido de um homem obrigado a ser subserviente à esposa é um tempero extra do roteiro. “Hal é o fã número 1 de Kate. Ele não quer derrubá-la, mas quer ficar bonito na foto”, defende Rufus Sewell (veja a entrevista completa no vídeo a seguir).

Última fronteira da afirmação feminina, o poder político nas mãos de mulheres é tema de várias séries de TV recentes. De A Diplomata, ando pela cômica Veep à dinamarquesa Borgen e até a fantasiosa A Casa do Dragão, essas narrativas expõem estruturas antiquadas de ambientes de poder tipicamente masculino. Um exemplo peculiar da dinâmica é retratado em A Casa do Dragão: enquanto Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy) briga por seu direito ao trono na série da HBO, ela enfrenta o ciúme do marido Daemon (Matt Smith), que almeja a coroa. Na segunda temporada, exibida neste ano, uma cena emblemática mostra o personagem à frente de um exército, se ajoelhando após muitas recusas perante Rhaenyra, assumindo sua submissão. Curiosamente, o mesmo ator encarnou outro príncipe obrigado a se curvar a uma rainha: Smith deu vida a Philip, cônjuge de Elizabeth II em The Crown, que não achava correto, em 1953, um marido se rebaixar perante a esposa — mesmo sendo a cerimônia de coroação dela. Por fim, ele se prostrou.

Continua após a publicidade
NA ESCANDINÁVIA - Borgen: mesmo na Dinamarca, o problema resiste
NA ESCANDINÁVIA - Borgen: mesmo na Dinamarca, o problema resiste (Mike Kollöffel/Netflix)

Já na hilária Veep, a protagonista Selina Meyer, vivida com acidez sulfúrica por Julia Louis-Dreyfus, é vice-­presidente dos Estados Unidos e almeja o emprego de seu chefe. Entre os percalços do caminho estão não só a própria política atrapalhada e sua equipe, mas seu ex — que posa de amigo, mas tenta se dar bem usando como ponte sua conexão com a segunda pessoa mais poderosa do país. Quando Kamala Harris foi de vice-­presidente a presidenciável nas eleições americanas, logo surgiram comparações com Veep: em determinado ponto da série, o presidente renuncia, ando a Selina o bastão e fazendo dela a primeira mulher na Presidência americana — conquista que, até agora, se resume ao campo da ficção. Na vida real, Harris depara com roteiros não tão cômicos — que chancelam a ideia por trás dessas séries: no esgoto da internet, seu marido, Douglas Emhoff, é chamado de frouxo e daí para baixo por apoiar a candidatura da esposa. Se ela ganhar, Emhoff vai assumir o título inédito na história do país de primeiro-cavalheiro.

A Casa do Dragão, série de sucesso da HBO Max
CIÚME - A Casa do Dragão: demorou, mas ele se ajoelhou diante da rainha (./HBO)
Continua após a publicidade

A máquina do machismo, claro, está presente nessas séries — e o brilhantismo de cada roteiro reside em contornar o assunto sem lhe dar tanta atenção, mas não deixar que ele vença. A série dinamarquesa Borgen faz isso com primor ao mostrar que nem em um dos países mais desenvolvidos do mundo uma primeira-ministra a imune ao julgamento masculino. Já em A Diplomata, Kate é constantemente cobrada por sua aparência e esboça sorrisos educados ao ouvir comentários sexistas de homens em posições superiores — a postura sagaz sempre antecede alguma ação da qual ela sairá por cima.

HILÁRIA - Veep: as intempéries de uma vice-presidente americana
HILÁRIA - Veep: as intempéries de uma vice-presidente americana (./HBO)

Assim, Kate e companhia quebram outro estigma das mulheres poderosas: elas se dão a chance de serem femininas e polidas, e ainda perspicazes e decididas — características que seriam sinal de fraqueza para pioneiras como Margaret Thatcher (1925-2013). A ex-primeira-ministra inglesa assumiu posturas até mais rígidas que as de seus colegas homens para reforçar a autoridade. O preço do poder é alto — e elas estão dispostas a pagá-lo.

Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916

Publicidade

Matéria exclusiva para s. Faça seu

Este usuário não possui direito de o neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única digital

Digital Completo 6o121u

o ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo 2g6h51

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 32,90/mês

*o ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.