ASSINE VEJA NEGÓCIOS
Imagem Blog

Murillo de Aragão

Por Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

A guerra civil tributária

O contribuinte continua sendo um cidadão de terceira classe

Por Murillo de Aragão Atualizado em 16 Maio 2025, 14h19 - Publicado em 16 Maio 2025, 06h00

A reforma tributária aprovada em 2024 não encerra — e dificilmente encerrará — um processo de discussões que atravessou o século XX, adentrou o século XXI e, muito provavelmente, nos acompanhará no século seguinte. Meu pessimismo irônico não é gratuito. Ele se sustenta em fundamentos sólidos. O que motiva mais um texto sobre tema tão desgastado é a atual disputa entre entidades municipalistas para integrar o comitê gestor do futuro imposto sobre bens e serviços. Trata-se do órgão responsável por istrar cerca de 1 trilhão de reais por ano quando a reforma estiver plenamente em vigor. Mas esse “detalhe” orçamentário não é o único ponto de tensão.

A reforma, ao contrário do que se propaga, não reduzirá imediatamente o volume de ações judiciais. O contencioso continuará girando no carrossel de disputas. Soma-se a isso o desafio dos bilhões de reais em isenções e benefícios fiscais. Sua eventual eliminação pode punir ainda mais a já sofrida competitividade brasileira; por outro lado, sua manutenção continua penalizando os cofres públicos. O dilema é evidente: como lidar com os subsídios sem comprometer o setor produtivo?

“Continuamos a não entender o que se a no mundo e a dedicar tempo e energia a criar dificuldades”

Outro ponto negligenciado é a questão dos direitos do contribuinte, praticamente inexistentes no ordenamento jurídico. O debate da reforma ignorou solenemente o tema, o que não surpreende: no Brasil, o contribuinte é um cidadão de terceira classe. Além disso, há a armadilha fiscal construída pelo crescimento contínuo dos gastos públicos, a necessidade compulsiva de arrecadação e um orçamento aprisionado por despesas obrigatórias. Poderíamos seguir demolindo o sonho de um sistema tributário racional abordando outros aspectos pontuais que confirmam o pesadelo nacional: a complexidade burocrática, o corporativismo da máquina arrecadadora e, evidentemente, a corrupção. Mas vale destacar o pano de fundo do problema: o descomo entre um projeto de país e o desenvolvimento econômico que deveria ser sustentado pelo setor produtivo como motor do progresso.

O Brasil é uma invenção moldada para servir aos interesses do próprio Estado. Nessa linha e seguindo o espírito do velho ditado anglo-saxão — “a burocracia cresce para atender às necessidades do crescimento da própria burocracia” —, foram concebidas sucessivas reformas tributárias. Desde a promulgação da Constituição de 1988, dezenas de emendas moldaram o nosso sistema. A reforma tributária é um processo contínuo desde a Constituinte, cuja principal consequência foi o aumento da carga tributária de cerca de 24% do PIB, no início dos anos 1990, para quase 35% atualmente. E, para coroar um debate frequentemente marcado por uma atitude antiempresarial, ainda se cogita a possibilidade de “exportar impostos”, um contrassenso econômico que revela o grau de desconexão entre o sistema tributário e as exigências da competitividade global.

Continua após a publicidade

Continuamos a não entender o que se a no mundo e a dedicar, com denodado esforço, tempo e energia a criar dificuldades para nós mesmos. Seguiremos, portanto, nesta guerra civil tributária sem fim, em que o contribuinte prosseguirá patrocinando o espetáculo sem poder participar dele de forma adequada.

Publicado em VEJA de 16 de maio de 2025, edição nº 2944

Publicidade

Matéria exclusiva para s. Faça seu

Este usuário não possui direito de o neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única digital

Digital Completo

o ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas R$ 5,99/mês*
ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Nesta semana do Consumidor, aproveite a promoção que preparamos pra você.
Receba a revista em casa a partir de 10,99.
a partir de 10,99/mês

*o ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.