A mudança sugestiva no uso da bandeira do Brasil na abertura de Vale Tudo 5t354x
Novela volta repaginada à grade da rede Globo – diferenças se revelam até na clássica vinheta 4573k

Em 1988, quando Vale Tudo foi exibida, o Brasil respirava os primeiros ares da redemocratização. O fim da ditadura militar que durou 21 anos no país, enfim, dava lugar a eleições diretas – assim como abria espaço para liberdades antes suprimidas, como a livre expressão da imprensa e das produções de cinema e da TV. A chegada da democracia, contudo, não estava isenta de problemas antigos – a desigualdade social, a desinformação e a corrupção eram (e ainda são) mazelas que ditavam a cara do país. Essa mescla de temas foi tratada na trama criada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères – e resumida na abertura clássica de Hans Donner. Na vinheta, imagens dos atores e de elementos típicos da cultura brasileira se mesclavam, embalados pela canção Brasil, de autoria de Cazuza, George Israel e Nilo Romero, e entoada pela inconfundível voz de Gal Costa. A mesma ideia se manteve, de forma atualizada, na abertura do remake que estreia nesta segunda-feira, 31. Uma mudança sutil, porém, ressalta a diferença mais gritante entre aquele período histórico e o atual: o uso da bandeira nacional.
Na abertura de 1988, a bandeira aparece logo no começo do vídeo, como destaque entre imagens de manifestações de brasileiros duramente o movimento da Diretas Já!, que pedia pelo fim da ditadura e pela abertura dos votos à população. Em tempos recentes, a imagem histórica poderia ser confundida com protestos que destoam dos pedidos de outrora: o principal símbolo da nação foi, por assim dizer, “sequestrado” por manifestantes da extrema-direita, que exigiam justamente o contrário, o retorno de um governo ditatorial — a exemplo do vergonhoso ato golpista do 8 de janeiro de 2023.
Para deixar claro seu distanciamento dessa vertente, a nova abertura de Vale Tudo não só ampliou a presença de símbolos brasileiros, com direito a imagens de um batismo evangélico até uma roda de candomblé, como também transformou o uso da bandeira do Brasil em um símbolo de união. Ao fim da vinheta, pessoas de diferentes etnias e em diferentes lugares do país se enrolam na bandeira, culminando na imagem de uma criança negra no Rio de Janeiro usando a insígnia verde e amarela. Ficou ainda como a cereja do bolo um flash da obra Okê Oxóssi, pintura de 1970, do artista brasileiro Abdias Nascimento. Na obra, feita por ele durante o exílio da ditadura, a faixa da frase “ordem e progresso” foi substituída pela palavra “okê”, saudação ao orixá Oxóssi. Confira a nova vinheta: