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Como os exercícios físicos provocaram uma revolução na moda 4a6h4a

Duas exposições em Paris revelam como a necessidade humana de se exercitar fez mudar radicalmente a forma como as pessoas se vestem 1n1h3t

Por Duda Monteiro de Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Mafê Firpo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 17h14 - Publicado em 17 mar 2024, 08h00

Noção hoje amplamente aceita e praticada, a ideia de que atividades esportivas trazem vastos benefícios à saúde surgiu com ares de grande novidade na Europa do século XIX. Antes disso, pairava sobre o esforço físico o estigma de ser braçal, algo para a classe trabalhadora. Foi a ciência que chacoalhou os pilares dessa convicção calcada em preconceito, impulsionando os bons médicos a expressamente indicar que as pessoas deixassem de lado a inércia e se pusessem em movimento. No início, a descoberta era compartilhada pelo reduzido círculo das elites, até se disseminar por todas as camadas e provocar uma profunda mudança de hábitos. À medida que as várias modalidades iam se profissionalizando — hipismo, tênis, natação —, uma questão se tornou inescapável: como adaptar os trajes tão fartos em tecido e tolhidos por espartilhos, feitos para enfeitar, a um mundo que abrigava a primeira Olimpíada da era moderna (1896), em Atenas, e assistia à humanidade cada vez mais adepta dos exercícios?

A resposta veio na forma de uma revolução na moda, que precisou adicionar altas pitadas de funcionalidade à beleza, explorando caminhos nunca antes percorridos para atender às ascendentes demandas esportivas. E as transformações se fizeram visíveis para muito além do guarda-roupas, que foi se tornando menos formal para, aos poucos, deixar os corpos mais livres e à mostra, dentro e fora das quadras. É nessa histórica jornada, na qual moda e esporte seguiram firmes de mãos dadas, que duas belas exposições mergulham em Paris, a cidade-sede dos próximos Jogos Olímpicos — uma no Museu de Artes Decorativas, colado ao Louvre, outra no Palais Galliera, dedicado justamente à moda, não muito longe do Arco do Triunfo. Ali, no palacete de arquitetura clássica, a evolução dos trajes se revela em duzentas peças que, uma década após a outra, vão se amoldando aos avanços esportivos, até desaguar na alta-costura. “A partir da década de 1920, as prestigiadas maisons aram a ter uma linha voltada para o esporte, o que mais tarde resultaria no sportswear, com o visual atlético tomando as ruas”, disse a VEJA Sophie Lemahieu, curadora da mostra Mode et Sport, do Museu de Artes Decorativas.

A metamorfose por que ou o vestuário usado nas mais distintas formas de exercício exigiu tempo e espírito de inovação. Ainda no século XVIII, a excêntrica Maria Antonieta, a última das rainhas da França, praticava equitação envolta em infinitas camadas de tecido que formavam uma saia com um corte para dar espaço às pernas — curiosa imagem eternizada por pinturas da época. Inspirada nas precursoras inglesas, ela depois adotou calça bufante, uma transgressão, já que era item exclusivamente masculino. Custou para se dar o salto para a jaqueta e a calça justa de hoje. Muitos materiais foram entrando em cena para conferir leveza na arena esportiva, e, nessa marcha, a estilista Coco Chanel (1883-1971) decidiu comercializar uma linha em malha jérsei, antes restrita aos homens. “No começo, as competições eram o único local onde elas podiam revelar suas curvas, e isso acabou representando mais um motor para a emancipação feminina”, observa Sophie Lemahieu.

Considerado um grande propulsor da estética esportiva, o francês Jean Patou (1887-1936) tornou-se o primeiro a conceber um modelito de alta-costura que foi parar nas quadras. Em 1926, com uma saia plissada na altura dos joelhos e blusa sem manga, a estrela do tênis Suzanne Lenglen causou abalos ao se apresentar com o conjunto que se distanciava dos uniformes que mal deixavam entrever a pele. Tempos depois, ele ficou mais curto e justo e desbravou tecidos elásticos, como o náilon. Também as piscinas foram palco de um dos mais notáveis sacolejos na moda — até o início do século XX, o conceito de maiô se traduzia em uma túnica sobre calça curta de algodão, o que conduziria a um macaquinho de malha, ambas soluções impensáveis nos dias de hoje, diante dos competitivos parâmetros da natação moderna. Apenas na década de 1940, aliás, o biquíni despontou nas areias europeias, alterando definitivamente a paisagem e a própria relação com o corpo.

As duas exposições parisienses enfatizam que a influência do esporte sobre a moda não para e vai ganhando novos contornos. Quando a top model Linda Evangelista adentrou a arela da Chanel, em 1991, com um acinturado terninho azul brilhante e legging preta, uma releitura do visual do surfe assinado por Karl Lagerfeld, apresentava mais do que um look — ali estava uma ideia. Grifes como Louis Vuitton, Balenciaga, Prada e Gucci também ingressaram com tudo no profícuo rol esportivo, já povoado por tantas marcas. “As fronteiras entre moda social e esportiva se dissolveram completamente”, afirma o especialista Brunno Almeida. E assim a humanidade caminhou, correu e saltou rumo a uma existência em que o espartilho, felizmente, não a de peça de museu.

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Traje de montaria
Traje de montaria (./Divulgação)

Traje de montaria

Quando surgiu: século XIX

Evolução: O excesso de pano do vestido exigia que as mulheres se acomodassem de lado sobre o cavalo. Ele foi substituído um século mais tarde por um conjunto de jaqueta e calça inspirado no guarda-roupa inglês.

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Roupa de banho
Roupa de banho (./Divulgação)

Roupa de banho

Quando surgiu: 1900

Evolução: O modelo, formado por túnica e bermuda, foi encolhendo gradativamente para se adaptar à natação e saltou das piscinas às areias nos anos de 1940, já na forma de biquíni

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Uniforme de tênis
Uniforme de tênis (Hulton Archive/Getty Images)

Uniforme de tênis

Quando surgiu: década de 1920

Evolução: Desenhada pelo revolucionário Jean Patou, a saia plissada na altura dos joelhos combinada à blusa sem decotes encurtou e se ajustou ao corpo, incorporando o náilon, tudo para facilitar o movimento

Publicado em VEJA de 15 de março de 2024, edição nº 2884

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