Tendência na Coreia do Sul e no Japão, a onda da ‘glass skin’ toma conta do Ocidente 5hx5o
Ela alimenta uma indústria milionária de cosméticos 2f4936

Influenciado pelas redes sociais, sempre elas, eis que surge um novo fenômeno de cuidados com a pele: a glass skin — ou “pele de vidro”. Trata-se de um cuidado facial composto por medidas e produtos que prometem uma tez translúcida, radiante e com brilho natural, e que tomou de assalto o universo da beleza, ganhando espaço também nas arelas e nas prateleiras das lojas de cosméticos. Começou na Coreia do Sul, potência global em inovações desse tipo, por meio da k-beauty (beleza coreana), cultura que busca incessantemente uma epiderme impecável e saudável. No Japão, virou febre. E agora ganha tração no Ocidente, à medida que os consumidores são seduzidos por produtos que garantem evocar a tal cútis luminosa.
Alguns dados ajudam a dar conta do tamanho da febre. No Reino Unido, por exemplo, a demanda por loções e séruns de luxo com essa descrição aumentou 13% em relação a 2023, de acordo com a Circana, consultora especializada em consumo. Elixires para “extrema hidratação e umidade” são ainda mais procurados, com vendas 15% maiores, especialmente de marcas sul-coreanas como Cosrx, Beauty of Joseon e Laneige, que viralizaram na internet. Até a Boots, a maior varejista britânica de beleza, expandiu sua linha de cosméticos para essa turma, adicionando novos produtos em endereços fixos e no ambiente digital, onde as pesquisas por “cuidados com a pele coreanos” aumentam 83% ano a ano. Segundo um relatório da Straits Research, a k-beauty será um negócio de 18,3 bilhões de dólares até 2030. São números impressionantes que fizeram as marcas globais também correrem atrás de criar fórmulas e métodos visando atingir o comentado brilho excepcional. “A glass skin é uma evolução natural da filosofia das coreanas, que priorizam o cuidado diário às soluções rápidas”, afirma o dermatologista Otávio Macedo, membro fundador da Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia a Laser.

Para que a pele pareça hidratada, brilhante e perfeitamente uniforme, as orientais combinam os cuidados com o rosto ao uso estratégico de maquiagem e produtos iluminadores, em um longo ritual composto por várias etapas. Começa com uma limpeza profunda com óleo e um limpador à base de água. Depois, vem a hidratação intensa, maior segredo da pele de vidro, obtida com a aplicação de cosméticos ricos em ácido hialurônico. Essências e loções hidratantes dão a aparência “molhada”. Séruns iluminadores com vitamina C e niacinamida melhoram o brilho natural da pele. O primer iluminador com partículas de brilho reflete a luz. Uma maquiagem leve realça a pele. E, por fim, iluminadores líquidos dão o efeito de pele molhada e reluzente. A indústria, voraz, incentiva ainda a adição de mais e mais produtos criados para a onda, como os glassy mists, sprays faciais que adicionam brilho, e máscaras faciais com ação iluminadora, formuladas com extratos de frutas, ginseng, mucina de caracol, lodo, pérolas e até diamantes moídos, que dão um aspecto de vidro ainda mais marcante. “Uma novidade interessante são as tecnologias de nanocápsulas de ativos, que permitem a liberação gradual da substâncias”, diz Macedo.
Embora a glass skin sinalize à aplicação restrita de cosméticos tradicionais, no caminho do menos é mais, minimalista, convém sempre ter atenção — especialmente na avalanche dos dias de hoje, em que boa parte dos influencers é sinônimo de má influência, ao alimentar o consumo desenfreado. No caso de crianças e adolescentes, vale a recomendação de acompanhamento médico, já que nem todos esses produtos são indicados para esse público, especialmente os que contêm algum tipo de ácido, geralmente formulados para peles mais maduras e que podem causar alergias e irritações nos jovens. O alerta é fundamental e irrecorrível, embora não tenha força, de modo algum, para frear o fenômeno que veio do Oriente — até que brote um outro, porque assim vive a humanidade quando se trata de exercitar a estética.
Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916