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A posse de Maduro e a ditadura que não tem mais vergonha de mostrar a cara 3a5nv

Com cerimônia marcada para 10 de janeiro, o caudilho venezuelano corta qualquer possibilidade de abertura democrática 3r2a5x

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 jan 2025, 08h00

Para a Venezuela, e para o mundo sobressaltado, 2025 começou com cara de ado. Na próxima sexta-feira, 10, Nicolás Maduro assumirá o comando do país, em cerimônia típica de uma “republiqueta de bananas”, na qual pretende ar a faixa a si próprio. Em Caracas e nos principais centros urbanos espera-se a eclosão de protestos, porque nem mesmo os cidadãos mais pobres creem nas promessas e nas falsidades do mandatário. Ao recusar-se a apresentar as atas que comprovariam a limpeza da eleição presidencial, em julho do ano ado, Maduro acendeu o pavio da desconfiança.

Pelas ruas da capital pipocam pichações com dizeres de “Liberdade já”, clara demonstração de rejeição ao regime chavista que empobreceu o país do petróleo nos últimos 25 anos. Não há, contudo, até onde a vista pode alcançar, nenhum movimento democrático, ao contrário. Encurralado dentro e fora de casa, o caudilho afia as garras e parece já não ter vontade de dissimular a bruta realidade.

Um modo de medir a insensatez, e às favas todo o escrúpulo, é a briga silenciosa, mas nem tanto, com o presidente Lula, amigo de todas as horas. O presidente brasileiro e seu assessor especial, Celso Amorim, apostaram na renovação, ao acreditar na boutade do autocrata, que deixaria o cargo caso fosse derrotado em um pleito limpo. Diante da fraude, o Itamaraty não reconheceu a legitimidade do governo, vetou a entrada da Venezuela no Brics e determinou que apenas a embaixadora Gilvânia Oliveira estivesse presente na posse — um jeito de dizer, em linguagem diplomática, que somente as frias relações formais serão mantidas. Movimentos sociais e entidades de esquerda bem que apelaram a Lula, ao pedir recuo e pazes com o vizinho ao norte. A possibilidade, porém, é considerada remota por funcionários do Itamaraty e do Palácio do Planalto. O desentendimento entre os dois líderes tem tensionado as conversas entre embaixadores dos dois lados da fronteira ideológica. A situação é particularmente tensa na representação da Argentina em Caracas, cuja segurança ou a caber ao Brasil, depois que o governo do ultraconservador Javier Milei decidiu abrigar opositores do regime.

EXÍLIO - María Corina (à esq.) e González: oposição sem força de mudar o cenário
EXÍLIO – María Corina (à esq.) e González: oposição sem força de mudar o cenário (Miguel Gutierrez/EFE)

Embora pareça, Maduro não está sozinho. Sua permanência no poder se deve, em parte, ao apoio de uma troika sustentada pelo autoritarismo e capitaneada por Xi Jinping, da China; Vladimir Putin, da Rússia; e Recep Erdogan, da Turquia. Todos de olho nas imensas reservas de óleo negro venezuelano, alternativa aos canais de comércio dominados pelos EUA e pela União Europeia. Em troca, Pequim e seus satélites acenam com novos negócios e financiam a dívida do país sul-americano — algo em torno de 60 bilhões de dólares. Internamente, Maduro se apoia no jogo corporativo das Forças Armadas. Nada menos que 2 000 generais gozam de cargos públicos estratégicos, salários polpudos e inúmeros privilégios, ando ao largo de serviços públicos precários, inflação alta e desabastecimento nos supermercados que atingem a maioria da população. “Maduro acredita não ter motivos para ceder à oposição”, diz Carolina Pedroso, professora de relações internacionais da Unifesp, descartando a possibilidade de transição negociada no contexto atual.

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Um fato novo pode, sim, desestabilizar o cenário aparentemente controlado: o regresso de Donald Trump à Casa Branca. O novo secretário de Estado, o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, é inimigo declarado de Maduro. A seu lado estará o novo enviado especial para a América Latina, Maurício Claver-Carone, arquiteto do plano que, em 2019, tentou alçar o deputado venezuelano Juan Guaidó ao esdrúxulo cargo de presidente interino. A iniciativa, como se sabe, resultou apenas em piadas, mas tudo indica que Trump tentará retomar a política de “pressão máxima” implementada no primeiro mandato. A receita incluiu isolamento político, sanções econômicas e incentivo a revoltas populares.

Sob o chavismo, a Venezuela viu o PIB encolher 80%, equivalente hoje ao da cidade do Rio de Janeiro. A crise econômica e o despotismo fizeram com que cerca de 7,7 milhões de pessoas deixassem o país, em uma das maiores diásporas do mundo. O endurecimento do regime, temem observadores internacionais, pode desencadear numa nova fuga em massa. Segundo pesquisa recente, um terço da população restante cogita ir embora se o governo não mudar. “Maduro, contudo, tem o tempo a seu favor”, diz Paulo Velasco, do curso de relações internacionais da Uerj. “Tanto o povo como as forças da oposição perderão capacidade de se mobilizar em decorrência de brigas internas, cansaço ou medo.” Edmundo González, que alega ter vencido a eleição de 2024, está exilado na Espanha. María Corina, sua madrinha política, vive escondida em alguma embaixada de Caracas. Sem capacidade de mexer no tabuleiro, restou à oposição denunciar as arbitrariedades de um regime que prendeu 2 300 pessoas desde a fraude eleitoral. Três presos políticos morreram na cadeia. No horizonte, só há mais do mesmo, para pior, muito pior.

Publicado em VEJA de 3 de janeiro de 2025, edição nº 2925

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