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Que governo é esse? A enrascada criada pelo imprevisível Macron 3n6e48

A esquerda ganhou a eleição, mas o novo primeiro-ministro é conservador, e seu gabinete, de centro-direita 336s3d

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 set 2024, 08h00

Se Emmanuel Macron tem alguma carta na manga para preservar seu legado depois de dissolver sem necessidade a Assembleia Nacional e antecipar uma eleição que era sabidamente perdida — e que perdeu —, ela continua escondidíssima. Da votação, saiu vencedora a Nova Frente Popular, uma coalizão de esquerda que abomina o atual presidente (no que é plenamente correspondida) e fez 193 dos 577 deputados. Em segundo ficou o centrista Renascimento, de Macron, com 159, graças a uma relutante aliança com os rivais esquerdistas para conter o avanço do Reagrupamento Nacional, da direita radical, que acabou em terceiro, com 143 cadeiras. Posto diante dessa salada, o presidente demorou dois meses para indicar um novo primeiro-ministro, que certamente não atende ao clamor das urnas: Michel Barnier, veterano político de 73 anos, é filiado ao Republicanos, herdeiro do gaullismo histórico e quarto colocado na votação (39 assentos). Barnier, por sua vez, custou mas enfim formou um gabinete que, na contramão das urnas, privilegia a ala conservadora, ignora os progressistas e tem tudo para acirrar os ânimos da política sa.

Ao justificar as escolhas, Macron citou a necessidade de “estabilidade” — hoje um artigo de luxo na França que Barnier e seus ministros, quase todos saídos do centro e da direita, têm poucas chances de garantir. “É um governo ilegítimo. Se a direita tivesse vencido, a direita teria governado”, bradou, cheio de indignação, o líder da esquerda mais radical, Jean-­Luc Mélenchon. Nem mesmo figuras ligadas a Macron entenderam muito bem a manobra. “Compreendo que os eleitores podem se sentir frustrados com esse governo, que não representa o resultado da eleição legislativa”, itiu Roland Lescure, ministro da Indústria na istração anterior, enquanto o próprio Renascimento avisava que aceita Barnier, mas não lhe dará carta branca.

Pela primeira vez desde que a Quinta República foi estabelecida, em 1958, a França a a ser governada por uma coalizão minoritária formada por partidos que se opam na votação antecipada — e cuja sobrevivência na Assembleia dependerá, para espanto geral, do mesmo Reagrupamento Nacional que Macron convocou os ses a rejeitar e que, na ordem atual das coisas, compartilha com Barnier posicionamentos importantes, sobretudo em relação à imigração. Uma das nomeações marcantes é a do ministro do Interior, Bruno Retailleau, conservador que já pressionou por cortes em assistência médica a estrangeiros não documentados e se envolveu em polêmica ao sugerir que imigrantes de segunda e terceira gerações são menos ses do que os integrantes de famílias tradicionais.

Uma semana após a nomeação do primeiro-ministro, 100 000 pessoas foram às ruas de Paris e outras grandes cidades em protesto contra a indiferença de Macron aos resultados eleitorais. Gabinete formado, as ameaças de uma moção parlamentar de desconfiança colocam o novo governo sob pressão antes mesmo de começar a trabalhar. Nesse contexto, o Reagrupamento Nacional, comandado por Marine Le Pen e seu garoto-prodígio, o deputado Jordan Bardella, tem a baguete e o queijo na mão para evitar que uma moção dessas seja aprovada e permitir a agem de projetos de lei. Ou não — dois dias após o anúncio do gabinete, Bardella afirmou ser este “um governo sem futuro”. A extrema direita, no entanto, evita derrubar pontes e conta com seu novo — e inesperado — papel de fiel da balança para reforçar as chances de ganhar a eleição presidencial em 2027. “O RN almeja estar em posição de vencer contra adversários divididos e desacreditados”, diz o cientista político Frédéric Sawicki, da Sorbonne. Em seu discurso na Assembleia em 1º de outubro, Barnier deve apresentar o novo orçamento repleto de cortes — a França não está cumprindo os limites de déficit e dívida públicos estabelecidos pela União Europeia. Será sua primeira prova de fogo — e quem sabe a última.

Publicado em VEJA de 27 de setembro de 2024, edição nº 2912

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