Bolsonaro ignorou alerta de prisão, que hoje bate à sua porta 1b1p6j
Baptista Júnior detalhou ameaça de punição ao ex-presidente, que continuou investida por uma virada de mesa e agora é réu por tentativa de golpe u3s2i

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior apresentou, ao depor como testemunha ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma cronologia de suas reuniões com Jair Bolsonaro após o então presidente sair derrotado nas eleições de 2022.
Baptista Júnior contou que teve cinco encontros com Bolsonaro após o pleito, todos eles em novembro, nos quais houve uma tensão crescente diante do esforço do ex-presidente em buscar alternativas que pudessem mantê-lo no cargo – entre as quais, a decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), do estado de defesa e de sítio. Participavam das conversas os três chefes das Forças Armadas e o então ministro da Defesa.
No que é considerado um dos pontos cruciais do caso, o comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, teria ameaçado prender Jair Bolsonaro caso ele levasse adiante a empreitada golpista, conforme narrou Baptista Júnior. Numa versão mais amena, Freire Gomes relata o episódio dizendo que alertou ao presidente que, se ele saísse dos aspectos jurídicos, “poderia ser enquadrado juridicamente”.
Seja qual for o enredo mais fidedigno, fato é que Bolsonaro foi alertado de que poderia ser processado e, consequentemente, preso, se tentasse alguma ruptura institucional. Apesar dos avisos, o ex-presidente não apenas continuou como intensificou a investida.
Conforme já foi amplamente relatado, no dia 7 de dezembro, por exemplo, ele chamou os comandantes para um encontro no Palácio da Alvorada, do qual Baptista Júnior não participou, e apresentou a eles uma série de “considerandos” que embasavam uma medida extrema. Diante de Freire Gomes, foi apresentada até a hipótese de prender o ministro Alexandre de Moraes para viabilizar a virada de mesa.
Dias depois, Bolsonaro apareceu, conversou com apoiadores e disse que “quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês, quem decide para onde vão a Câmara e o Senado, são vocês também”. Na sequência, o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, reuniu os militares para apresentar uma proposta de ruptura ainda mais abrangente.
Dois anos e meio depois, Bolsonaro é réu no STF por tentativa de golpe e outros quatro crimes – juntas, as penas podem chegar a 40 anos de prisão. Se nada mudar, o julgamento será encerrado ainda neste ano. Não foi por falta de aviso.
As reuniões entre Bolsonaro e os comandantes b46
Conforme o relato de Baptista Júnior, o primeiro encontro aconteceu em 1º de novembro, dois dias após o segundo turno. O recém-derrotado Jair Bolsonaro chamou para uma reunião no Palácio da Alvorada os três comandantes das Forças Armadas, o ministro da Defesa e o advogado-geral da União. Juntos, os auxiliares se debruçaram sobre o resultado das urnas e diagnosticaram ao presidente que não havia qualquer indício de fraude eleitoral. Desolado, ele perguntou ao assessor jurídico se tinha espaço para alguma solução ser tomada. A resposta foi negativa.
No dia seguinte, um Bolsonaro ainda mais deprimido convocou os mesmos militares para um novo encontro, desta vez descartando a presença do advogado-geral, e começou a aventar a possibilidade de recorrer a algumas alternativas, entre elas a decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e um questionamento do resultado via Ministério da Defesa. Ali, os militares acenderam o alerta de que o presidente poderia estar disposto a tomar alguma medida mais extrema.
No terceiro encontro, quinze dias após o veredito eleitoral, Bolsonaro tornou essa suspeita em certeza. Diante dos chefes militares, o presidente disparou telefonemas a supostos estudiosos que teriam detectado fraudes na eleição, os colocou em contato com os comandantes e entregou a eles um documento “mal escrito” que evidenciaria irregularidades nas urnas. Antes, ele já tinha determinado que a Defesa refizesse uma nota para acrescentar que, apesar de não ter encontrado inconsistências no processo eleitoral, essa possibilidade não estava descartada.
Em conversas reservadas, os chefes militares confidenciavam uma preocupação crescente ao perceberem que as Forças Armadas, ao invés de serem utilizadas para garantir a paz social, como imaginavam, estavam sendo instrumentalizadas para medidas de exceção. Em data incerta de novembro de 2022, segundo o relato de Baptista Júnior, o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, trouxe seu desconforto à tona numa conversa firme com o presidente da República. “Se fizer isso, vou ter de lhe prender”, alertou.
Baptista também contou ter rejeitado com “ênfase” qualquer alternativa apresentada pelo comandante em chefe. “Aconteça o que acontecer, no dia 1º [de janeiro de 2023] o senhor não será presidente”, disse o brigadeiro.