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De costas para a Cúria 351c6p

Prestes a completar cinco anos de pontificado, Francisco enfrenta uma batalha na missão de arejar a Igreja — e os inimigos estão dentro do próprio Vaticano 6f4b1u

Por Adriana Dias Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h44 - Publicado em 29 dez 2017, 06h00

Como faz todos os anos desde 2013, quando assumiu o Trono de Pedro depois da renúncia de Bento XVI, o papa Francisco reuniu os cardeais na sala Clementina do Palácio Apostólico do Vaticano para os votos de Natal. Aos amados “irmãos e irmãs” — estavam ali também funcionárias da Cúria —, fez um pronunciamento duro em favor das reformas na Igreja, obsessão deflagrada nos primeiros minutos de seu pontificado. Rindo, lembrou uma frase “simpática e significativa” do arcebispo belga Frédéric-François-Xavier de Mérode (1820-1874), conselheiro do papa Pio IX: “Fazer as reformas em Roma é como limpar a esfinge do Egito com uma escova de dentes”. Testemunhas disseram ter percebido sorrisos amarelos, olhares de esguelha, ao que Francisco prosseguiu na peroração, como se precisasse explicar o que acabara de resumir na tirada espirituosa.

Fez alusão à “lógica desequilibrada e degenerada de conluios ou de pequenos clubes que representam um câncer que leva à autorreferencialidade” e emendou com um comentário ainda mais ácido: “Permiti-me aqui uma palavra sobre outro perigo: os traidores da confiança ou os que se aproveitam da maternidade da Igreja, isto é, as pessoas que são cuidadosamente selecionadas para dar maior vigor ao corpo e à reforma, mas — não compreendendo a alçada da sua responsabilidade — deixam-se corromper pela ambição ou pela glória vã e, quando delicadamente são afastadas, autodeclaram-se falsamente mártires do sistema, do ‘papa desinformado’, da ‘velha guarda’, em vez de recitar o mea culpa”.

A contundência, dois tons acima do usual, e pouco natalina, não foi inesperada. Ao contrário. Francisco enfrenta uma batalha — e seus maiores inimigos estão dentro do próprio Vaticano. Ele luta para arejar a Igreja Católica e atrair mais fiéis, mas o fogo amigo é só boicote. A guerra é fria, as armas são palavras, mas ferem como lança. Em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, o vaticanista americano John Allen, reputado pelas informações dos bastidores e pela aguda clareza, afirmou: “Os papas costumam ser contestados pela esquerda da Igreja. Este, porém, é atacado pela direita, e isso faz a contestação adquirir grandes proporções”. O que significa ser alvejado pela direita, ou seja, pelos conservadores? Jorge Mario Bergoglio, o papa do fim do mundo, das favelas de Buenos Aires, do confronto com a ditadura militar argentina, tem um ideário muito nítido, traduzido em sua retórica, minuciosamente atrelada a temas delicados para o catolicismo.

Defendeu o acolhimento de homossexuais (“Se uma pessoa é gay, quem sou eu para julgá-la?”), de mães solteiras (“Essa mulher teve a coragem de continuar a gravidez”) e itiu o divórcio (“Existem casos em que a separação é inevitável”). Fez muito mais, em sua toada modernizadora: desestimulou as missas em latim, destituiu prelados influentes sob a acusação de desvio de dinheiro, deu poder a laicos e condenou o clericalismo exacerbado. Mexeu num vespeiro milenar — ainda que não tenha sido o primeiro pontífice a fazê-lo, foi pioneiro em tempos de redes sociais, em que tudo corre muito mais rapidamente, inclusive a lentíssima movimentação da religião dos discípulos de Jesus.

MISERICÓRDIA – O papa deu sinais contraditórios ao velar o cardeal Bernard Law, acusado de encobrir casos de pedofilia
MISERICÓRDIA – O papa deu sinais contraditórios ao velar o cardeal Bernard Law, acusado de encobrir casos de pedofilia (Max Rossi/Reuters)

Em nenhuma seara comportamental Francisco provocou mais ruído que na do divórcio, mais até do que com sua postura em relação à homossexualidade. Em um de seus recentes documentos, a exortação apostólica Amoris Laetitia (A Alegria do Amor), de 2016, texto com poder de disseminar caminhos para o clero, Francisco imprimiu uma nova visão sobre a relação da Igreja com os divorciados em segunda união. Na doutrina católica, quem se separa e se casa novamente comete adultério e, portanto, não pode receber o sacramento da comunhão nas missas. No pontificado de João Paulo II, a Igreja reconheceu o o aos sacramentos da confissão e da eucaristia aos divorciados recasados no caso de viverem sob o mesmo teto como irmão e irmã. Em Amoris Laetitia, Francisco foi além, ao afirmar que a separação pode se tornar moralmente necessária quando se trata de defender o cônjuge mais frágil ou os filhos pequenos. E mais: “Em certos casos, poderia haver também a ajuda dos sacramentos. Por isso, aos sacerdotes, lembro que o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas o lugar da misericórdia do Senhor”.

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A reação foi imediata, mercurial. Por meio de uma carta aberta, um grupo de cardeais, liderado pelo influente americano Raymond Burke, pediu explicações ao pontífice com uma justificativa sem meias palavras: “É nossa intenção ajudar o papa a prevenir divisões e contraposições na Igreja, pedindo-lhe que dissipe todas as ambiguidades”. Em entrevista ao site católico americano LifeSiteNews, Robert Sarah, cardeal africano que defende ritos ultraformais, como a celebração das missas com padres “na mesma direção dos fiéis”, de costas para a plateia, o que era comum nas tradicionais missas em latim, chegou a afirmar em outra ocasião que “a unidade da Igreja está sendo ameaçada”. Em manifestação ainda mais vigorosa, um grupo de quarenta padres e teólogos assinou um manifesto no qual acusa Francisco de heresia. O primeiro parágrafo é direto: “Santo Padre, com profunda aflição, mas movidos pela fidelidade ao Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo amor à Igreja e ao papado, e pela devoção filial a Sua Pessoa, vemo-nos obrigados a dirigir a Sua Santidade uma correção, devido à propagação de heresias produzida pela exortação apostólica Amoris Laetitia e de outras palavras, atos e omissões de Sua Santidade”.

Concílio Vaticano II
HERANÇA – Francisco segue os princípios defendidos pelo Concílio Vaticano II, marco na modernização da Igreja (David Lees/Corbis/Getty Images)

Heresia é uma rejeição ou mera dúvida de um dogma da fé divina e católica, praticada por uma pessoa batizada. É uma designação gravíssima para um papa. Inúmeros pontífices cometeram atos hereges explicitamente, como ensina a história, mas poucos foram chamados como tal. Em 1331, o papa João XXII recebeu a alcunha quando numa série de sermões ensinou que “as almas benditas, depois de terem terminado o seu designado tempo no purgatório, não veriam a Deus até após o juízo final”. Pelos princípios católicos, o purgatório não é um tribunal, mas um tempo de purificação. Confrontado por cardeais, João XXII retratou-se anos depois, um dia antes de sua morte.

Francisco não se pronunciou ante as acusações, e dificilmente o fará. O papa não quer mudar a orientação da Igreja em relação ao matrimônio. Nem poderia. Diz o Evangelho de São Mateus: “O homem deixa seu pai e sua mãe para se unir a sua mulher e os dois se tornam uma só pessoa. Assim, já não são duas pessoas, mas uma só. Portanto, que ninguém separe o que Deus uniu”. O pontífice, no entanto, pode atualizá-la sem desrespeitar os princípios católicos. Diz Juarez de Castro, pároco da Igreja da Assunção de Nossa Senhora, em São Paulo: “Francisco interpreta a doutrina com o olhar da compaixão. Não se trata de endossar o divórcio, mas de valorizar a misericórdia”.

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Francisco, apesar de sua língua ferina, prefere sempre o perdão a qualquer gesto que soe a confronto — embora, ressalve-se, seja muito hábil ao esgrimir com palavras, como fez no discurso pré-natalino a seus pares. Sua postura é quase sempre misericordiosa, atributo precioso aos católicos. No entanto, não é raro que um gesto de compaixão provoque estranheza aos olhos dos leigos. Em 21 de dezembro, ele foi ao funeral do cardeal americano Bernard Law, acusado de encobrir um dos maiores escândalos de pedofilia da Igreja Católica, entre os anos de 1984 e 2002, caso contado no filme Spotlight, vencedor do Oscar em 2016. É praxe a participação de um papa nas exéquias de um cardeal — mas, ao homenagear protocolarmente Law, Francisco deflagrou a discussão: afinal, não seria sua obrigação condenar a pedofilia, a qual Bento XVI se viu sem forças de combater, o que o levou à renúncia? Bergoglio não teria sido feito papa justamente para enfrentar situações como essa — além de exercer o controle mais severo das finanças da Cúria e combater o exagerado centralismo? Estar ao lado do corpo estendido de Law pode ter sido um o em falso, mas seria praticamente impossível evitá-lo. Os avanços na Igreja, quando ocorrem, são morosos, feitos de sístoles e diástoles.

Houve contrações, como sístoles, durante o pontificado de João Paulo II, de 1978 a 2005, e do breve Bento XVI, de 2005 a 2013. O papa polonês não priorizou a chamada colegialidade, o compartilhamento das decisões da Igreja com cardeais e bispos. Ele as centralizou em reação ao fortalecimento de movimentos católicos ligados a bispos locais, como a Teologia da Libertação. O papa alemão alimentou uma Igreja mais fechada em si mesma, concentrada no aparato istrativo, burocrático e político da Santa Sé — atalho para malfeitos. O papa argentino, em processo de diástole, tomou caminho diferente do de seus antecessores, com olhar para o momento histórico de reforma da Igreja, que ele parece querer reanimar. Esse momento foi o Concílio Vaticano II, a assembleia religiosa realizada na década de 60, marco na modernização litúrgica e doutrinal da Igreja. Iniciado por João XXIII (1958-1963) e concluído por Paulo VI (1963-1978), o concílio buscava uma Igreja mais simples, mais próxima do rebanho — uma Igreja, enfim, com a cara de Francisco. Popular, talvez populista. Ele dispensa, sempre que lhe é permitido, o vidro do papamóvel para ficar mais exposto. Diz o cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo: “O papa se comunica muito bem, e sua mensagem e exemplo alcançam multidões”. Os frutos são concretos: no levantamento do Escritório Central de Estatística do Vaticano realizado em 2016, o terceiro ano de pontificado de Francisco, o número de católicos no mundo — depois de décadas em estagnação ou queda — ou de 1,11 bilhão para 1,27 bilhão (há 172 milhões no Brasil).

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